segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007


Pois é isto das vontades são o que são e já passaram uns meses desde que não me enfiava por aqui... isto não deve ir longe mas... Já agora meto uma imagem a ver se isto dá...






E não é que funciona mesmo...
"Afastada a justiça, o que são os reinos senão grandes bandos de ladrões? E os bandos de ladrões o que são, senão pequenos reinos?"

Santo Agostinho, A cidade de Deus, séc. IV d.C.:
Um Beijo

Queremos um momento que perdure para lá do momento. Um momento que se quer de relance, não quero momentos repetidos e isso chateia-me. Quero ter momentos no momento em que quero este e não outro. Quero coisas de relance que desaparecem com o sabor de se querer mais. Como um beijo.
Como se acaba um beijo. O ângulo de rotação da cabeça será um indicativo que estes segundos de suculenta escuridão estão prestes a terminar. Qual será o aviso para que as línguas cessem o seu esforço e apenas carne contra carne molhada se afaste enquanto tudo termina. O último milésimo de segundo em que as salivas se misturam é o fim de algo que afinal não se quer que tenha fim. Hesita-se… será … só mais um pouco. Rodarei a cabeça outra vez?
O bom beijo é quando apetece outro. Então os que terminam não foram bons? Teremos que viver num enorme beijo. E se o melhor beijo for aquele que não tem irmão mais novo. E se o melhor beijo for o último. Porque é que então, não se lembra do último beijo de alguém mas sim do primeiro. O primeiro que nunca é filho único, que por vezes nasce desajeitado naquele mundo novo com estranhos hábitos. A língua que dantes sempre torceu para a esquerda e agora vê-se obrigada a mudar de ala. Lábios que procuram como que chave nova procura na fechadura o encaixe que permite uma porta aberta. Agora que a porta está aberta outra fechou-se… já não há primeiro beijo… E agora?
Será que vale a pena torcer-me uma vez mais… irei rodar a cabeça mas uma vez para que línguas, lábios e salivas já ensinadas num laivo de inspiração descubram novos rumos para que remotamente façam lembrar o nascimento do desajeitado primeiro filho.
Mas se fosse o último. E se soubesse que ia ser o ultimo. Não seria inesperado não seria de relance, era um acordo. Este será o ultimo encontro estes nossos lábios. Prepararse-iam estes, para não falhar, para um momento perfeito, para um ultimo momento. Para o tal beijo bom que apetece outro e outro e que para não violar as regras deste cortês acordo se convertia no melhor beijo, no melhor momento, no perfeito último momento.
Mas que importa se não se lembra do perfeito último momento, mas do desajeitado primeiro, haverá sempre últimos, os do meio, e os primeiros, até ao último, até á ultima palavra.